Grande parte das pessoas (provavelmente até você) já pensou em abrir um negócio próprio. Afinal, ser dono do seu nariz, trabalhar para você mesmo e ter mais flexibilidade de horários com maior potencial de ganho são características bem atrativas.
Acontece que ter uma boa ideia e vontade de empreender não são suficientes. Antes de qualquer coisa, é fundamental se preparar. Mas, para se preparar, é preciso conhecer e, para obter conhecimento, é necessário pesquisar. Essa lógica se aplica até as melhores ideias: se não houver planejamento, as chances de o empreendimento ir à falência logo no início são grandes, conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Sebrae que mostra que 90% das micro e médias empresas não conseguem se manter ativas nos primeiros anos.
Mas por que exatamente isso acontece? O que essas empresas fizeram de errado? Por que não conseguem se manter no mercado? Essas e outras dúvidas foram esclarecidas pelo diretor-executivo da Fagus Consultoria, Sidney Shiroma, em entrevista exclusiva à revista VendaMais.
Confira, a seguir, as orientações, sugestões e dicas de Sidney para que sua empresa perdure e firme o posicionamento da sua marca no mercado por muitos e muitos anos!
Os 10 erros mais comuns cometidos pelas empresas
- Não possuir um plano de negócios, planejamento estratégico ou análise mercadológica.
- Misturar as finanças da empresa com as pessoais.
- Contratar familiares, amigos ou pessoas inadequadas para a empresa.
- Não estabelecer metas e prazos para os colaboradores.
- Tomar decisões sem informações precisas, sobretudo, financeiras.
- Contrair empréstimos para pagar despesas operacionais sem um plano de recuperação e reestruturação.
- Não tomar decisões no momento em que é preciso.
- Perder o comando, a comunicação e o respeito das pessoas.
- Depender de colaboradores, clientes e/ou fornecedores.
- Acreditar que sabe tudo, que não precisa de ajuda e nunca enfrentará dificuldades.
VendaMais – A que o senhor atribui esse índice tão elevado de micro e pequenas empresas que não conseguem se manter no mercado em seus primeiros anos?
Sidney Shiroma –Um dos principais fatores é a falta de experiência dos empreendedores em planejamento e gestão de empresas. É preciso fazer um estudo da viabilidade do empreendimento, uma pesquisa de mercado e um planejamento financeiro antes de iniciar a operação. Nesse sentido, o plano de negócios é a ferramenta fundamental para evitar que essas empresas fechem as portas em seus primeiros anos. Sem ele, elas ficam muito dependentes da “sorte”.
Quais são, então, os primeiros passos que um empreendedor deve seguir?
O primeiro passo é a elaboração do plano de negócios, no qual as ideias são estruturadas em um documento. Pode parecer fácil, mas, ao escrevê-las, muitas dúvidas começam a surgir. Não basta apenas saber produzir ou vender um produto, pois uma empresa requer muito mais que isso! É preciso prever e administrar os aspectos internos (pessoas, funcionários, processos, documentos, controles, finanças) e externos (clientes, fornecedores, concorrentes, parceiros). O segundo passo é a elaboração de um planejamento financeiro para simular a necessidade de capital/investimentos, metas de vendas, fluxo de caixa, custos operacionais, entre outros. Resumindo: é necessário prever e antecipar situações e tomar as decisões no momento correto com a informação precisa.
Que peso a tomada ou não de decisões tem no processo de sobrevivência e posicionamento da empresa no mercado?
O empreendedor precisa tomar decisões a todo momento e é ele que define e orienta os rumos da empresa para os próximos anos. É por isso que deve antever as situações favoráveis ou desfavoráveis, baseado em informações e tendências do mercado.
E de que maneira as pessoas podem adquirir conhecimento para dar esses primeiros passos e abrir uma empresa de sucesso?
O Sebrae possui programas interessantes que auxiliam na formação e capacitação de empreendedores, tanto no aspecto operacional quanto na administração e gestão. Além disso, existem as empresas de consultoria que podem tornar esse processo mais rápido e prático.
A falta de informação financeira é um dos erros mais comuns cometidos pelas empresas. Quais são as implicações em não ter controle preciso do que entra, do que se paga, etc.?
Além da gestão financeira e contábil, em que se controlam as entradas (receitas) e saídas (despesas) já realizadas, é preciso olhar para o futuro. O planejamento é uma atividade fundamental para toda empresa, seja ele estratégico, financeiro ou organizacional. É como na vida pessoal! No orçamento doméstico, se conhecemos qual é o total de rendimentos mensais, sabemos quanto podemos gastar com aluguel, educação, lazer, saúde, alimentação, entre outros. Em uma empresa, isso também é possível. Fazer projeções (orçamento) de vendas/receitas, despesas, investimentos, etc. é a maneira de manter a saúde financeira da empresa sob controle.
Nesse cenário, ainda é muito comum situações em que despesas pessoais se misturam com despesas da empresa. Quando isso acontece, o que deve ser realizado para desfazer tal situação?
É preciso classificar e separar as despesas da pessoa jurídica e da pessoa física. A empresa tem de pagar apenas as despesas da operação, e elas devem possuir algum documento associado (boleto, contas, NF), no qual precisa constar o CNPJ e a razão social do fornecedor. Isso já resolve até um problema com os livros contábeis (caixa e razão). As despesas pessoais devem ser calculadas e incorporadas ao pró-labore (salário) dos sócios.
Como escolher os primeiros funcionários?
É preciso estabelecer os prerrequisitos para cada cargo/função e selecionar as pessoas com o perfil mais adequado a exercer essas atividades. O indivíduo que não possui a competência e a experiência necessária irá consumir mais tempo para realizar as tarefas e sobrecarregar ainda mais o tempo escasso dos sócios. Além disso, é preciso analisar o custo x benefício das pessoas, pois, muitas vezes, o barato sai caro!
E como direcioná-los para o caminho que o empreendedor decidiu seguir?
Todas as ações operacionais realizadas pelos funcionários devem estar alinhadas aos objetivos estratégicos da empresa, portanto, precisam ser Específicas, Mensuráveis, Atingíveis, Relevantes e Temporais (método SMART). Assim, ficará mais fácil para o dono avaliar os resultados obtidos e rever as estratégias e ações para corrigir os eventuais desvios.
Sabemos que, no início, nem todas as empresas possuem capital para investir em benefícios aos funcionários. De que modo elas podem se mostrar interessantes para seus colaboradores?
Hoje em dia, os benefícios fazem diferença na composição da “remuneração” dos funcionários. É importante prever e simular o impacto desses benefícios no resultado financeiro da empresa. Alguns deles, como o vale-transporte, vale-alimentação e assistência médica são muito bem-vistos pelos funcionários operacionais e pesam na hora de avaliar as propostas do mercado. Além desses benefícios tradicionais, elabore planos de remuneração variável atrelados aos resultados da empresa para as pessoas com funções estratégicas. Isso não aumenta o custo fixo e, ao mesmo tempo, motiva a equipe.
Como uma empresa consegue ganhar credibilidade – e começar a alavancar os negócios – logo no início de suas operações?
A credibilidade é obtida com a segurança e a confiança do mercado fornecedor e consumidor. Um cliente se sente seguro quando o produto ou serviço vendido possui qualidade, o atendimento é eficiente, os prazos são cumpridos, existe transparência nas informações, entre outros. A próxima conquista é a confiança! Uma simples frase para facilitar o entendimento é: “Confiar é ter a certeza de que a pessoa agirá da mesma maneira, mesmo quando você não estiver vendo”. Portanto, incorpore essas atitudes na missão, nos valores e no dia a dia da empresa.
Em meio a um mundo no qual as atualizações tecnológicas não param, o investimento em TI é fundamental logo no início ou é algo que pode ser implantado posteriormente?
A tecnologia é uma importante aliada para automatizar e reduzir o tempo das tarefas e processos, além de multiplicar e transformar o grande volume de dados em informações rápidas e confiáveis. Ela deve ser utilizada sempre que um desses itens estiver dificultando o crescimento da empresa. Hoje em dia, existem diversas opções para companhias e pessoas, desde soluções gratuitas (software livre) até soluções empresariais mais complexas, portanto, é preciso avaliar o momento e a opção mais adequada a cada negócio.
Como vencer num mercado em que já existem concorrentes experientes?
Com tanta concorrência, é preciso se diferenciar continuamente, inovando e agregando valor aos produtos, melhorando a qualidade dos serviços e reduzindo custos operacionais, ou seja, pensando diferente. Basta observar as situações do cotidiano para perceber como existem inúmeras oportunidades de negócio. Por exemplo: quando procura por algum serviço, você encontra com facilidade aquilo que busca? As informações fornecidas são claras, precisas e no tempo adequado? A prestação desses serviços é satisfatória? Coloque-se na posição do cliente para conseguir identificar os pontos que poderiam ser melhorados. Faça diferente!
Para finalizar, que outras dicas o senhor pode deixar para que nossos leitores que estejam à frente de ou querendo abrir uma micro ou pequena empresa alcancem sucesso em seus negócios?
Para começar, identifique quais são seus objetivos pessoais. Se esses objetivos podem ser atingidos por meio da viabilização de um empreendimento, você deve encará-lo como o futuro da sua vida, portanto, precisa tratá-lo com muito cuidado. Não deixe de investir o tempo necessário no planejamento desse negócio, afinal, nem todas as ideias são factíveis. Defina também seus objetivos financeiros (pró-labore e lucro), tenha atitudes vencedoras e não desanime!