Localizada a 400 quilômetros de São Luís, na Região do Alto Turi, Santa Luzia do Paruá tem a santa protetora dos olhos como padroeira, mas a ‘menina dos olhos’ do município é a produção de mel. A quantidade de mel produzido é tão alta que a cidade já é conhecida como a ‘Capital Maranhense do […]
Localizada a 400 quilômetros de São Luís, na Região do Alto Turi, Santa Luzia do Paruá tem a santa protetora dos olhos como padroeira, mas a ‘menina dos olhos’ do município é a produção de mel. A quantidade de mel produzido é tão alta que a cidade já é conhecida como a ‘Capital Maranhense do Mel’.
De acordo com dados do IBGE, o Maranhão produziu, em 2016, o total de 1.700 toneladas de mel, ocupando a terceira colocação no ranking do Nordeste, ficando atrás somente dos estados da Bahia (3.560 ton.) e do Piauí (3.000.ton.). Em nível nacional, o Maranhão ocupa a oitava posição. O maior produtor é o estado do Rio Grande do Sul, com 6.200 toneladas.
Na cadeia produtiva do mel do Maranhão, o município de Santa Luzia do Paruá se destaca. Os dados do IBGE revelam que, em 2016, o município produziu 387 toneladas, ficando na primeira colocação no ranking, seguido dos municípios de Maranhãozinho (288 ton.) e Maracaçumé (167 ton.).
As atividades dos apicultores do Alto Turi tiveram início na segunda metade da década de 80, mas só deslanchou a partir de 1996. No começo, apenas seis produtores, com 50 caixas no total, deram os primeiros passos na atividade. Hoje, a região possui mais de 500 apicultores que comemoram os avanços na produção, cuja coleta começa em julho e termina em setembro.
A abelha mais comum no Alto Turi é a “Apis Melífera”, também conhecida como africanizada, italiana e braba que possui ferrão. Este tipo de abelha se aproveita da vegetação silvestre da região para produzir o mel.
Além da produção do mel, as abelhas cumprem um importante papel para o equilíbrio dos ecossistemas. A polinização é fundamental para garantir a alta produtividade e a qualidade dos frutos em diversas culturas agrícolas.
O principal problema enfrentado pelos apicultores do Alto Turi é em relação à comercialização do produto. Com o desenvolvimento da atividade e com a inexistência de uma política voltada para o setor, o mel é exportado de forma in natura.
“Com um programa do governo que estabeleceu as cadeias produtivas, nós estamos revertendo essa situação e, nesse semestre, será inaugurada a primeira agroindústria de mel onde nós vamos poder colocar o nosso mel no mercado local e nacional para que a população conheça esse produto diferenciado que existe no Maranhão”, afirmou o diretor de pesquisa da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão – AGERP, Antônio Malheiros.
Ele também explicou que no Maranhão existem três tipos de mel: o característico dos mangues, de área silvestre e o de plantas aquáticas. Todos dependem da florada. No caso do mel do mangue, ele é claro e se cristaliza de forma rápida; o mel silvestre é escuro e o de plantas aquáticas que também é claro e de excelente qualidade. “Nesses dez anos o preço do mel no mercado nacional e internacional tem tido uma ascendência. Ele não tem perdido o valor financeiro. O Maranhão tem essa característica e precisa explorar melhor esse produto”, disse o diretor da AGERP.
“O MEL DAQUI É QUE NEM OURO”
O atual presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais de Santa Luzia do Paruá, Raimundo Costa Lino, que foi um dos primeiros apicultores da região, lembrou que quem introduziu a apicultura no município foi o padre José Ribamar Abas Filho – que não mora mais na cidade. “A produção do mel vem aumentando a cada ano. Nós iniciamos em 1996, mas só deslanchou em 2010. No começo, eram apenas cinco pessoas, com o total de 50 colmeias. Com o passar do tempo, avançamos ao longo da região do Gurupi, Carutapera, Viana e em Santa Luzia. Foram muitas as dificuldades. Hoje, o mel aqui é que nem ouro, quanto mais produzimos, mais vendemos”, afirmou ele.
Daniel Melo, secretário de Agricultura, Produção e Abastecimento de Santa Luzia do Paruá, afirmou que a apicultura é lucrativa e mantém os agricultores no município. “A apicultura é mais lucrativa e está mantendo os agricultores no município, evitando, dessa forma, o êxodo rural para a zona urbana da cidade e até para outros estados”.
AUMENTO DA RENDA FAMILIAR
Os resultados da produção do mel e o crescimento da renda familiar têm contribuído na atração de novos produtores. A apicultura, que era uma atividade exercida por homens, passou a atrair a atenção das mulheres, que estão se organizando em pequenas associações. Além disso, os filhos dos agricultores da região do Alto Turi estão se qualificando no Instituto Tecnológico do Maranhão (IEMA) para melhorar a produção do mel nas propriedades dos pais.
“A ideia é levar mais conhecimento técnico para os apiários dos municípios da região e melhorar ainda mais a produção”, disse a estudante Samara Maria da Silva.
Antônia Lopes, que é presidente da Agricomel, do Povoado Centro do Chicão, zona rural da cidade de Maranhãozinho, disse que as mulheres estão trabalhando com uma meta ambiciosa. “Atualmente, a associação conta com 280 caixas e espera coletar pelo menos quatro toneladas de mel. Mas, o nosso grande problema é a falta de certificação que deixa os produtores reféns dos intermediários. Esse é um problema enfrentado tanto pelos homens como pelas mulheres apicultoras”.
MELHORAMENTO DA GENÉTICA
A criação de um núcleo de produção de abelhas rainhas é outra inovação. Há dez meses os apicultores iniciaram um projeto pioneiro de produção de abelhas rainhas. No primeiro momento foram instaladas 20 caixas. “A ideia é melhorar a genética das abelhas e aumentar a produção de mel na região do Alto Turi”, acentuou Rafael da Silva Santos, técnico da AGERPO.
O apicultor Vicente Paiva esclareceu que a criação de abelhas rainhas vai ajudar a melhorar ainda mais a produção e a qualidade do mel.
Na opinião do gestor regional da AGERP, José Raimundo Mendonça, a produção do mel na região do Alto Turi tem tendência de crescimento. “Basta que os investimentos cheguem para todos”.
A Apis Nativa, de Santa Luzia do Paruá, é a única empresa da região que prepara o mel para ser transportado para a matriz que fica em Santa Catarina. “Em 2017, a produção foi tão grande que a empresa parou de receber mel porque não conseguiu atender a demanda. Tudo foi encaminhado para a sede da empresa que fica no Estado de Santa Catarina”, disse o assistente administrativo da empresa José Mota Lino.