São Domingos se destaca na produção e se torna nova ‘Capital do Abacaxi’ no Maranhão

Kleber da Silva Souza, produtor de abacaxi em São Domingos do Maranhão (MA) — Foto: Fernando Martinho

De Globo Rural

Em 2022, um decreto estadual conferiu ao município de São Domingos do Maranhão (MA) o título de “Capital do Abacaxi”, em reconhecimento à tradição de cultivo da fruta desde o final da década de 1980. Embora o Maranhão ainda não se destaque entre os grandes produtores da fruta, caminha nesse sentido. A produção do Estado vem sendo impulsionada pelas safras colhidas em São Domingos do Maranhão, que crescem em ritmo acelerado e na contramão do desempenho nacional.

No cenário nacional, a cidade de São Domingos do Maranhão é apontada como a segunda “capital do abacaxi” do Brasil, atrás do município de Floresta do Araguaia, no Pará. No entanto, é a cidade maranhense que vem abastecendo o maior mercado consumidor da fruta, São Paulo, uma vez que boa parte da produção de Floresta do Araguaia é industrializada sob a forma de suco concentrado por uma indústria especializada no processamento do abacaxi, com capacidade de quatro mil toneladas de suco por mês.

Kleber da Silva Souza faz cultivo irrigado de abacaxi e planeja dobrar a produção — Foto: Fernando Martinho
Kleber da Silva Souza faz cultivo irrigado de abacaxi e planeja dobrar a produção — Foto: Fernando Martinho

Em 2005, foram colhidos 3,2 milhões de frutos em São Domingos do Maranhão. Em 2015, o volume passou a mais de 35 milhões de unidades e, em 2024, a safra do município superou os 55 milhões de frutos, produzidos em 2,5 mil hectares de lavouras. Atualmente, de acordo com Astolfo Seabra, secretário de agricultura do município, cerca de 2.500 famílias estão envolvidas no cultivo do abacaxi em São Domingos do Maranhão.

De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o Pará é atualmente o maior produtor de abacaxi do Brasil, mas a produção do Estado vem caindo há dois anos, com retração de 4,78% em 2021 e de 0,91% em 2022. Da mesma forma a produção nacional da fruta, que somou 1,5 bilhão de frutos em 2022, é 20% menor que a registrada em 2015.

Economia local aquecida

Ao se tornar a capital da fruta, São Domingos do Maranhão ganhou um festival anual do abacaxi, está estruturando uma cooperativa de produtores e atraiu novos investimentos. “O título fez com que os produtores e os trabalhadores da cadeia se sentissem valorizados e buscassem a profissionalização”, explica Seabra.

O município de São Domingos do Maranhão está localizado no leste do Maranhão, possui pouco mais de 34 mil habitantes e tem como característica a existência de diversos minifúndios. “São centenas de pequenos agricultores que vem aprimorando as técnicas de produção e têm conseguido elevar tanto o volume quanto a qualidade das safras”, diz o secretário. Segundo ele, a produção de abacaxi cresceu 57% nos últimos dez anos. O padrão dos frutos também melhorou, com a maior parte da safra com abacaxi acima de 1,5 quilo.

Cerca de 50% da safra de São Domingos é destinada para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), onde os produtores maranhenses estiveram no final do ano passado para conhecer os processos de comercialização. “São Domingos abastece importantes mercados no momento da entressafra no Sudeste”, diz Sérgio Delmiro, engenheiro agrônomo, sócio executivo da Ímpeto Assessoria e Consultoria e ex-Secretário de Agricultura do estado do Maranhão. Delmiro acredita há potencial para a instalação de um polo de fruticultura no estado, que vem registrando aumento também na produção de melancia e banana.

O restante da produção segue para os estados nordestinos, com destaque para o vizinho Piauí, que recebe mais de 30% da produção na Ceagesp de Teresina.

Produção o ano todo

Em São Domingos do Maranhão, o produtor de abacaxi Kleber de Souza planta as variedades pérola e turiaçu desde 2014, em uma parte da propriedade de 96 hectares herdada pelo pai. Ele optou pelo cultivo irrigado, que lhe possibilita a colheita da fruta durante a entressafra, que ocorre no início do ano. “Atualmente cultivo em apenas dois hectares, mas tenho planos de dobrar a lavoura”, conta.

Além de investir na irrigação, o produtor também planeja o plantio de forma rotacionada. Isso porque o ciclo de produção do abacaxi é longo, cerca de 18 meses. “Então eu planto em períodos intercalados para ter produção o ano todo. Minhas colheitas são semanais”, explica o produtor, que está se formando em agronomia. “Decidi estudar para obter o conhecimento necessário para conduzir minha lavoura da forma correta. Também penso em trabalhar com consultoria em fruticultura”, diz.

Kleber acompanha de perto cada fase de produção de sua lavoura, que fica distante 10 quilômetros do município de São Domingos do Maranhão, onde reside com a esposa. “Venho todas as tardes para o campo”, conta.

Espalhando conhecimento

Um outro produtor vem ajudando a disseminar os conhecimentos técnicos na região. Leandro Rocha, engenheiro agrônomo, já trabalhou no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Assim que me formei comecei a trabalhar com fruticultura”, conta.

Leandro Rocha oferece consultoria sobre a produção de abacaxi — Foto: Leandro Rocha/Arquivo pessoal
Leandro Rocha oferece consultoria sobre a produção de abacaxi — Foto: Leandro Rocha/Arquivo pessoal

Desde 2015, Rocha oferece consultoria sobre a indução floral para a uniformização de colheita, adensamento dos plantios, controle de pragas, irrigação, produtividade e renda. Ficou tão envolvido com o tema, que em 2016 arrendou quatro hectares para iniciar sua própria lavoura. “Este ano ampliei a área para 6 hectares”, diz o produtor, que colheu 80 mil frutos na safra atual (de março a setembro) e estima colher 120 mil unidades no próximo ano.

Na época da colheita, a movimentação cidade é tamanha chegam a ser carregados 120 caminhões por dia, com capacidade de 12 a 20 mil frutos. Diferente do que ocorre com outras lavouras, a colheita não é de responsabilidade do produtor. “Há um intermediário que contrata o transporte, colhe e já carrega o caminhão na propriedade”, conta Rocha. A colheita é feita de forma manual, e este ano o preço pago aos produtores variou de R$ 2 a R$3 por unidade.

Para chegar aos grandes centros consumidores, o abacaxi, que é muito perecível, é colhido antes de ficar maduro, o que ocorre aos 150 dias do plantio. “Para chegar às regiões Sul e Sudeste o fruto é colhido com 120 dias”, conta Leandro.

Até São Paulo são três dias de viagem. Para facilitar a logística as principais estradas da região foram pavimentadas nos últimos anos. “Todo ano os produtores aumentam um pouco a área de cultivo. Queremos ter aqui a maior produção de abacaxi do Brasil”, diz o agrônomo Leandro Rocha.

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