Trump está ‘estudando’ o que fazer com Powell; entenda a importância de um BC independente

Presidente dos EUA disse que, se pedir para Jerome Powell deixar o cargo, ele irá deixar. No entanto, regras americanas não permitem que o governo demita o chefe do Fed. O presidente dos EUA, Donald Trump, observa Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), durante discurso na Casa Branca, em 2 de novembro de 2017
REUTERS/Carlos Barria/Foto de arquivo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua equipe estão “estudando” se demitir o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, é uma opção. A declaração foi feita pelo assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, nesta sexta-feira (18) ao ser questionado por um repórter.
Quem ocupa o cargo de presidente nos EUA não pode demitir diretamente o chefe do Fed. Para isso, um processo teria de ser aberto para comprovar que quem está no comando do BC americano cometeu alguma irregularidade grave durante seu mandato.
Nesta quinta (17), porém, Trump afirmou a repórteres que, caso ele peça para o chefe do BC deixar o cargo, Powell irá deixar. Segundo ele, chefe da instituição financeira deveria promover novos cortes de juros.
“Não estou satisfeito com ele. Avisei a ele e, se eu quiser que saia, ele sairá de lá muito rápido, acredite”, disse Trump.
Apesar disso, Powell afirmou que a lei não permitiria sua remoção, que ele não sairia se Trump pedisse e que pretende servir até o final de seu mandato, que termina em maio de 2026.
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Segundo especialistas ouvidos pela Reuters, a credibilidade do Fed como o banco central mais poderoso do mundo se baseia em grande parte em sua independência histórica para agir sem influência política, e uma tentativa de remover Powell do cargo poderia perturbar ainda mais os mercados, já afetados pelo tarifaço. (leia mais abaixo)
Os mandatos de presidente e vice do Fed têm duração de quatro anos. Eles são indicados pela Casa Branca e precisam ter a posse confirmada por uma votação no Senado.
Foi o próprio Trump quem nomeou Jerome Powell para liderar o Fed durante o seu primeiro mandato em 2018, mas agora o acusa de politizar o banco central americano. Em 2022, Powell foi indicado pelo ex-presidente Joe Biden para continuar no cargo.
Trump x Powell
Trump chama presidente do BC americano de ‘atrasado e errado’
Nesta quinta-feira (17), Trump criticou a gestão de Jerome Powell e disse que ele está “sempre muito atrasado e errado” na condução da política de juros do país.
A declaração veio apenas um dia após Powell criticar publicamente o tarifaço do presidente americano. Na quarta (16), Powell disse que o nível das tarifas anunciadas por Trump é muito maior do que o Fed esperava, mesmo nos cenários “mais extremos”.
O presidente do Fed também disse que a guerra tarifária iniciada pelos EUA pode dificultar o trabalho do BC americano, que toma suas decisões sempre guiado pelo objetivo de controlar a inflação e fortalecer o mercado de trabalho.
Trump reclamou do tempo que falta para o fim do mandato de Powell à frente do Fed, dizendo que esse momento “não chega rápido o suficiente”.
A importância de um BC independente
O Fed é uma instituição independente e o governo não pode interferir nas decisões sobre os juros, o que evita o uso das taxas de juros para aquecer a economia em um momento de inflação acelerada.
“É muito importante o Fed ser independente porque é a instituição responsável por olhar para a economia de um jeito técnico”, explica o analista de investimentos Vitor Miziara.
“Os governos, de forma geral, torcem para juros muito baixos porque estimulam a economia, trazem dívidas com custos menores e facilitam a vida das pessoas. Mas isso só funciona no curto prazo porque juros muito baixos sem uma base técnica para isso trazem inflação. A conta sempre chega lá na frente”, pontua.
“A independência do banco central é importante para que a instituição não tome decisões com base no populismo, mas sim tentando assegurar uma economia saudável no médio e longo prazo, e não apenas no curto prazo para beneficiar o presidente da vez”, destaca Miziara.
*Com informações das agências Reuters e AFP.
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