A pequena comunidade quilombola de Só Assim, no interior do município de Alcântara, no Maranhão, é dona de uma história de superação, em que o desenvolvimento se confunde com a trajetória de seus habitantes. Há 10 anos, no povoado teve início uma jornada de transformação, que tem o apoio do Sebrae como base. A parceria, que já resultou em avanços significativos na produção agrícola, trouxe melhorias na qualidade de vida e na renda das famílias, gerando transformações.
Luciano Diniz Rodrigues é morador do povoado. Ele relembra os passos dessa história, que começou em 2013. “Na época, a gente tinha um valor de venda muito baixo, porque a farinha, ou saía escura ou muito fina. Hoje, não! A farinha tem uma qualidade maior e mais valorizada no mercado. E o rendimento também, o valor comercial, também aumentou,” contou o produtor.
Na comunidade de Só Assim são produzidas farinha de puba e farinha branca. Em 2013 a Associação de Moradores do povoado, com apoio do Sebrae, iniciou um trabalho de fortalecimento da agricultura familiar, que hoje se reflete na modernização das práticas de produção e reforço ao espírito empreendedor.
Só Assim é uma das dezenas de comunidades reassentadas no processo de implantação do Centro de Lançamento de Alcântara – CLA. O apoio de instituições como o Sebrae tem sido fundamental para que os moradores do povoado prosperassem na agricultura familiar. Através de consultoria tecnológica para melhoria de processos, difusão de tecnologia na fabricação de farinha e de capacitações, os agricultores aprenderam novas técnicas de cultivo, melhoraram a gestão financeira e comercialização. E dez anos depois, a comunidade colhe os frutos desse trabalho.
Melhorias na produção – Hoje, a comunidade vive um momento que marca a transição da técnica de roça no toco para a mecanizada. Essa mudança tem gerado melhorias e desenvolvimento para o povoado. E a modernização nos meios de produção da farinha, tem possibilitado agregar valor ao produto e destaque no mercado.
As mudanças começaram pelo método e manejo da mandioca, que passou a ser descascada e lavada duas vezes antes de submersa em água, o que garante a maior limpeza e pureza do produto final. Esse procedimento simples tem impacto na cor e sabor do produto. E, além disso, a peneira de guarimã deu lugar à de aço e o tradicional tipiti foi substituído pela prensa. O resultado é a uniformização do caroço da farinha, maior qualidade e pureza do produto, além de elevação da produtividade e melhor aproveitamento da matéria-prima.
“A produção mudou muito; a gente teve muito ganho com a mudança, graças a Deus! Em relação à qualidade e quantidade, porque quando colocávamos a mandioca de molho com a casca, a gente perdia boa parte da massa. Antes para fazer dez paneiros de farinha, a gente passava três dias; hoje, a gente mexe 15 paneiros de farinha num dia. Então isso aí mudou muito pra gente”, destacou Luciano.
Atendimento do Sebrae – Depois de receber o atendimento do Sebrae a comunidade internalizou a ideia de empreendedorismo e continuou buscando mais melhorias, por meio de incentivos de diversas fontes. Através da Associação de Moradores, eles conseguiram uma máquina agrícola que ajuda no manejo da terra. O uso dessa máquina é feito de forma coletiva e a produção também. Os moradores se unem para produzir em forma de mutirão, mostrando que a união faz a diferença.
“Retornar à comunidade rural de Só Assim e constatar que um atendimento realizado em 2013, através de uma consultoria tecnológica, resultou na melhoria de processos da produção de farinha da mandioca, impactando significativamente em mudanças de melhorias da produção, apresentação do produto, preço e, principalmente, de qualidade de vida dos produtores. Isso nos deixa muito felizes”, disse Rosa Amélia, gerente da Unidade de Negócio do Sebrae de Pinheiro, responsável pelo atendimento do município de Alcântara e mais 24 municípios da região,
Impactos econômicos – Com a melhoria na produção, a qualidade do produto deu um salto considerável, o que resultou no aumento do valor de comercialização. A farinha que antes saia escura, com caroço duro e disforme, se tornou um produto uniformizado, com o uso da peneira de aço, a farinha de puba de cor amarela tem aroma e sabor incomparáveis, a farinha branca é visivelmente limpa e crocante, uma excelente opção para a farofa tradicional.
“Hoje 1kg de farinha de puba é comercializado por R$18,00 e até R$20,00 reais. O valor para revenda é de R$15,00 reais. A farinha branca a gente vende por R$16,00 reais o quilo; na cidade, ela chega a custar R$18,00 ou R$19,00 reais,” explicou Luciano.
Pensamento empreendedor – O impacto das capacitações do Sebrae mudou não só o jeito de plantar e de produzir, mas também o modo de pensar. Agora, os produtos (farinha de puba e farinha branca) já não são mais a única fonte de renda. Os agricultores aprenderam a buscar novas formas para obtenção de ganhos, como por exemplo, com a venda da casca da mandioca, usada para produção de ração animal. Um saco de casca chega a custar R$25,00.
Esse pensamento empreendedor tem garantido boas perspectivas para a comunidade de Só Assim. Mas esse grupo de agricultores enfrenta um desafio comum dos novos tempos: a permanência dos mais jovens na atividade do campo. Para Luciano, o futuro ideal seria com a juventude não tendo que deixar a terra natal para crescer economicamente.
A parceria continua – Um fator que destaca essa comunidade de outras é o fato de seus moradores terem tido que se reinventar em um novo local, com um novo estilo de vida e terem obtido êxito com isso. Mas para garantir o sucesso é preciso força de vontade, dedicação e união, avaliam os moradores.
O Sebrae agora retorna ao povoado para monitorar os resultados alcançados e o desempenho da comunidade, além de traçar novos caminhos para a produção, em conjunto com os produtores.
“A gente agradece muito o Sebrae em relação ao acompanhamento que tivemos e hoje a gente quer fortalecer essa parceria, porque o apoio que nos deram fez muita diferença e queremos que continue e traga novas mudanças, principalmente por causa da juventude. Queremos incentivar a continuidade desse trabalho, modernizar e desenvolver ainda mais a nossa agricultura”, concluiu Luciano.