O espaço é delas: maranhense se destaca como densenvolvedora de jogos e inspira outras mulheres

O empreendedorismo feminino cresce em todo o Brasil. No Maranhão, segundo dados do DataSebrae, a partir da base da Receita Federal, hoje 41,2% dos negócios formais e ativos são liderados por mulheres.

Pioneira no Maranhão, Ana Ribeiro se destaca como desenvolvedora de games. (Acervo Pessoal)

Nesse cenário, a participação feminina começa a crescer em áreas majoritariamente dominadas por homens. No mercado de games, a presença ainda é tímida. Dados da Abragames (Associação Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Jogos Online) revelam que 15% é o percentual de mulheres na indústria de jogos nacional. Esses números, que parecem pequenos, já foram ainda menores dez anos atrás. Mas, esse cenário já está mudando.

A história de jovens como Ana Ribeiro mostra essa transformação. Ela é diretora criativa de jogos virtuais e sócia da Arvore Immersive Experiences, a maior empresa da América Latina, focada na criação de jogos para realidade virtual. Nesse mercado, Ana se destaca na área de desenvolvimento de games, universo no qual os homens, até bem pouco tempo, reinavam absolutos.

Com sete anos no mercado, a Arvore foi a grande parceira no desenvolvimento da série Pixel Ripped, primeiro trabalho assinado por Ana, que atualmente está motivada como diretora criativa do Clawball, mais recente lançamento da empresa, jogo multiplayer gratuito, onde você é um gato jogando futebol.
Virada de chave: um novo caminho, uma nova direção.

Ana Ribeiro e Gabriel Drummond, colaboradores maranhenses da Arvore Immersive Experiences. (Divulgação Sebrae)

Mas a trajetória como desenvolvedora teve momentos de reviravoltas e autodescobertas. Formada em Psicologia, Ana trabalhou por cinco anos no Poder Judiciário, como concursada. “Apesar da estabilidade, eu sentia que algo estava faltando. Sempre amei videogames, mas nunca havia pensado nisso como uma carreira. Para mim, os jogos eram apenas um hobby, algo distante do mundo profissional”, relembra ela.

Tudo mudou após o Empretec, a famosa imersão para empreendedores oferecida pelo Sebrae. “Na época, eu planejava abrir uma casa de empadas. Mas, durante o curso, percebi que estava no caminho errado. Foi ali que a ficha caiu: meu sonho era trabalhar com jogos. Decidi, então, que precisava mudar de direção e seguir aquilo que realmente me fazia feliz”, conta a jovem empreendedora.

A decisão trouxe junto um processo de busca de conhecimento e formação na área. “Mudei-me para a Inglaterra, onde me formei em Programação de Jogos pela SAE Londres. Depois, fiz mestrado em Game Design na National Film and Television School (NFTS), onde criei o Pixel Ripped, meu projeto de mestrado, uma série de realidade virtual, que tem dez anos, com três episódios lançados”, segue relembrando.

Nesse percurso, vários desafios. Alguns ligados à condição feminina. “O mercado parecia desconfiar da nossa capacidade, especialmente quando buscávamos investimento. Antes de encontrar a Arvore, passei três anos no Vale do Silício, onde participei de um acelerador chamado BoostVC junto com minha ex-sócia. Éramos 15 empresas e a nossa era a única com mulheres no time. Participamos de vários pitches para investidores-anjos, mas enfrentávamos barreiras para além da dificuldade de vender uma ideia. Descobrimos, por exemplo, que algumas festas promovidas por investidores, onde conexões importantes eram feitas, aconteciam sem que fôssemos convidadas. Era frustrante perceber que estávamos sendo excluídas de oportunidades cruciais, simplesmente por não fazermos parte do famoso “clube do bolinha”. Houve momentos em que senti que, se fôssemos homens, teríamos conseguido captar investimento com muito mais facilidade” relata.

Persistência e capacitação

Ao contrário de fazer desistir, essas experiências desafiadoras trouxeram para o cotidiano de Ana o significado de persistir e lutar por espaço e a importância de se capacitar sempre. “Hoje, com a Arvore, tenho o privilégio de estar em um ambiente onde meu trabalho é reconhecido e valorizado, mas nem sempre foi assim”, frisa a empreendedora.
Seguir adiante e com coragemAna ressalta o aprendizado da jornada e ressalta que o mais importante é não desistir e acreditar no próprio potencial. “Ninguém vai lutar pelos nossos sonhos com mais paixão do que você mesma. Então, é preciso buscar sua autenticidade, trazendo suas próprias experiências e valores para o que faz, porque é isso que te diferencia”, diz ela.

Ana Ribeiro: do Maranhão para o mundo. (Acervo Pessoal)

Outro conselho para quem deseja empreender e se diferenciar é nunca parar de aprender. Segundo Ana, “o conhecimento abre portas”. Ela também enfatiza a importância das redes colaborativas. “Mulheres, mesmo atuando em universos dominados por homens, não estão sozinhas. É importante construir uma rede de apoio com pessoas que te valorizam e te fortalecem. “Isso faz toda a diferença para superar barreiras e conquistar nossos espaços”, acrescenta confiante.

Hoje, Ana vê a si mesmo como empreendedora. Além da Arvore, onde atua como diretora criativa, ela também é CEO da empresa Pixel Ripped, fundada em 2015, enquanto participava do acelerador BoostVC, no Vale do Silício-EUA. “A Pixel Ripped, com sede nos Estados Unidos, é detentora dos direitos autorais da minha criação. Curiosamente, da turma de 2015 do acelerador, minha empresa é a única que permanece ativa, um fato que reforça a importância de resiliência e foco no longo prazo”, celebra Ana.

Para Danielle Abreu, coordenadora de Produtividade e Transformação Digital do Sebrae no Maranhão, “histórias como as de Ana e de mulheres que, ao empreender, buscam se diferenciar de um jeito próprio, com empreendedorismo, conhecimento e profissionalismo, mais do que retratar o sucesso de um empreendedor que busca realizar seus sonhos, servem de inspiração para outras mulheres”. “Retratar essas histórias é fundamental para que a participação feminina cresça, não apenas na indústria de games, mas em todos os espaços”, destaca a coordenadora.

Danielle Abreu, coordenadora de Produtividade e Transformação Digital do Sebrae no Maranhão. (Divulgação Sebrae).

MARANHÃO EM NÚMEROS

Dados de novembro de 2024 da Receita Federal, revelam que o Maranhão possui 291.969 empresas ativas, dos quais os homens lideram 57,8%, contra os 41,2% comandados por mulheres, nas faixas etárias de 35 a 39 anos e de 30 a 34 anos.

Na distribuição por setores, as mulheres são mais frequentes no Comércio, com 48,03% dos negócios; seguido pelos Serviços, com 42,62% e pela Indústria, com 6,12%.
Entre os segmentos econômicos com maior participação de sócias mulheres, o destaque é para o de Saúde e Bem-Estar, que aglutina 18,4% das empresas ativas com sócias mulheres, evidenciando o protagonismo feminino em áreas relacionadas ao cuidado e à qualidade de vida. Outros segmentos de destaque são: Moda e Confecção, com 14,3%; Supermercados, Hipermercados e Atacadistas de Alimentos, Bebidas e Fumo, com 10,7% de mulheres liderando o negócio.

Em termos de atendimentos presenciais realizados pelo Sebrae no Maranhão, as mulheres são a maioria, representando 51% dos atendimentos realizados pela instituição no período de janeiro a novembro de 2024.

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